sábado, 12 de julho de 2008

A DUNA


Aprecio de cima da duna a maravilhosa paisagem...
O vento vindo do mar carrega, aos poucos,
O punhado de areia que tenho na mão.
Reluzindo, rumo ao sol,
Os grãos me escapam por entre os dedos,
Quanto mais os aperte...

E mesmo contrariando a vontade,
Ouço a tácita poesia advinda da cena:

Estou sentada sobre o passado,
Sobre areia já escoada da ampulheta de minha vida...

Sim, alguns anos já me passaram,
Bons e ruins,
E seguem passando, ruins e bons.
Não há nada que se possa fazer para interromper o seu curso.

A duna, móvel, segue aumentando.
Ora se desfaz, seduzida pela brisa;
Ora se refaz, pelo simples fugir do tempo...

Aqui do alto, sentada sobre minha história,
Revisito o recôndito e semi-cerrado baú de minhas lembranças,
De poesias e canções empoeiradas,
De tristezas e emoções,
E de desejo
Inefável...

Sorrio para o vento.

Vasculho um pouco mais o baú
Repleto de metáforas inéditas,
E de construções verbais
Que nasceram sem o dom de encantar,
Sem o poder da retórica.

Em atitude estóica
Fecho o baú, mas não o tranco.

Sigo contemplando a paisagem...

Apesar de estar no alto,
A duna e sua mobilidade não me causam pânico.

Sorrio para o vento que me leva os grãos...

Talvez, um dia, traga-me folhas
Com as palavras
Nunca ditas.

Lílian Martins
13.07.08
01h01m
(Imagem: www.francosegurosaude.com.br/.../dunas-jeri.bmp)

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